segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Artigo de Paulo Linhares

SOFRÊNCIA POLÍTICA 
E OUTRAS TOLICES PERIGOSAS
Paulo Afonso Linhares
Nada mais embaraçoso que a mistura de sofrimento com carência para os espíritos de quaisquer densidades e latitudes, sejam aqueles mais iluminados, os briosos ou vencedores natos, sejam aqueles pouco arejados, sombrios, sorumbáticos ou bobos alegres, os imbecis de carteirinhas, os pobres de espírito propriamente ditos etc. É a sofrência, que quando bate causa estragos, todavia, quando atinge as coisas do coração (ou da cabeça, como queiram...) se resolve pelo lado mais ameno e até lúdico das pessoas, ou seja, com um pouquinho de “líquido explosivo”, que era como o saudoso Chico do Bar, tudo que cheirava a álcool, uma musiquinha bem derramada de breguice e até um arrasta-pé caprichado.
Essa sofrência, portanto, até que tem cura. Meno male. Piores são outras sofrências, de tão complicadas que até fazem calos n’alma e enormes aperreios nos juízos das pessoas: as decorrentes de dificuldades financeiras ou dos tantos percalços que causam a má sorte na política. Enfim, sofrência política, como se pode impropriamente nominar, é uma pedrada que se deve evitar, sobretudo, em face dos “efeitos colateriais” que pode acarretar. Definitivamente, agora essa palavra agora entra para o vocabulário da política.
Aliás, nem é preciso dizer que, além de certos limites de razoabilidade, em política sofrência somente rima com intolerância, imprudência ou pura demência. Assim, não deixa de ser preocupante sofrência política o estado de espírito que atingiu maciçamente os opositores ferrenhos da dupla Lula/Dilma, ademais do satanizado partido a que ambos pertencem, que é o PT de todas as armações no seio do poder. Tem sido profunda, por exemplo, a sofrência política dos tucanos e de seus aliados, aqueles encarapitados numa miríade de grandes, médias siglas partidários de valor duvidoso, além dos capitães dos grandes conglomerados de comunicação do Brasil (Rede Globo, O Estado de São Paulo, revista Veja, Folha de São Paulo etc.), que não toleram – todos eles! - o redesenho da cena política nacional a partir da manifestação inolvidável da soberania popular, após as eleições de 26 de setembro de 2014.
Os exemplos históricos preocupam: os partidários da velha UDN (União Democrática Nacional) e seus aliados civis, militares e eclesiásticos, começaram ter dor de cotovelo com carência de poder após a derrota do brigadeiro Eduardo Gomes na eleição presidencial de 1945, quando perdeu para o marechal Eurico Gaspar Dutra, um dos condestáveis militares do regime autoritário implantado por Getúlio Vargas. Para aumentar mais a sofrência udenista, Eduardo Gomes se candidatou à presidência em 1950 e foi fragorosamente derrotado pelo próprio Vargas. A partir de então, promoveram os udenistas e seus aliados, inclusive, aqueles que comandavam a grande imprensa, uma série de escaramuças que, num primeiro momento, resultaram no suicídio do presidente Vargas em 1954; posteriormente, com mais uma derrota sofrida pela UDN, cujo candidato, o general Juarez Távora, perdeu para Juscelino Kubitschek (do Partido Social Democrático – PSD, uma vertente do getulismo), continuou o incoformismo udenista que se traduziu em várias tentativas de desestabilizar o governo constitucional com revoltas militares (as de Jacareacanga e Aragarças) e outras ações políticas de caráter golpista. A pior obra da acumulada sofrência política dos udenistas, contudo, foi a parte que tiveram no golpe que apeou da presidência da República o herdeiro político de Getúlio Vargas, o então presidente João Goulart, e fez o Brasil mergulhar numa longa e tenebrosa noite que durou 21 anos, sangue, suor e lágrimas.
Desgraçada sofrência udenista que em tudo por tudo se assemelha às dos tucanos, demos e outros bichos de mesma extração conservadora. Basta ver a barba do senador Aécio Neves, para se aferir o alto grau dessa sofrência que se cristaliza na possibilidade de um terceiro turno na eleição presidencial a ser realizado em sessões do Congresso Nacional tendo como supedâneo movimentos de rua, a ser realizado em todas as capitais do país (como a famigerada "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", realizada poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964, de triste memória...) em prol do impeachment da presidente Dilma. 
Nuvens pesadas começam a preencher dos horizontes da política brasileira; factóides de todos os calibres ganham enormes espaços nas mídias e nos tribunais, tudo no desiderato de colocar no banco dos réus mais uma leva de petistas e, quem sabe, até mesmo o próprio Partido dos Trabalhadores que, a exemplo do que ocorreu com o velho PCB, cujo registro foi cancelado pelo Tribunal Superior Eleitoral, através da Resolução nº 1.841, de 7.5.1947, a partir de denúncia banal feita, em março de 1946, pelo Deputado Barreto Pinto (que foi o primeiro deputado federal cassado, no Brasil, por falta de decoro parlamentar: tirou uma foto de fraque, cartola e cueca...), do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sob a alegativa do caráter ditatorial e internacionalista do Partido comunista do Brasil e pedindo a cassação de seu registro. E pode até ser que efetivamente a História se repita “como farsa”, como assinalou o filósofo de Trèves, Karl Marx, mas, infelizmente se repete. Basta armar o circo para que as coisas aconteçam com toda a sofrência política que os perdedores têm. Isto é preocupante e perigoso, sobretudo porque, neste momento, em Brasília há mais coisas no ar que os simples aviões de carreira. Vade retro

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