domingo, 24 de agosto de 2014

Artigo de Paulo Afonso Linhares

ELEIÇÕES 2014: NOVO CENÁRIO

Paulo Afonso Linhares

A trágica e prematura morte de Eduardo Campos, ademais de comover toda a nação brasileira, impôs inesperada e por demais significativa mudança na cena política nacional, mormente em vista da eleição presidencial deste ano de 2014 em que o político pernambucano despontava como o terceiro dos candidatos nas intenções de votos colhidas em diversas sondagens até agora realizadas. Na corrida presidencial, Eduardo Campos patinava entre 8 e 10 por cento, contra cerca de vinte por cento de Aécio Neves e quase 40 por cento de Dilma Rousseff. Esta, aliás, vinha aparecendo como provável vencedora do embate eleitoral ainda no primeiro turno. A tragédia de Santos, todavia, pode representar uma reviravolta neste cenário.

Ora, imediatamente depois das exéquias do ex-governador Eduardo Campos e dentro do prazo legal, a coligação partidária liderada pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB colocou Marina Silva como candidata à presidência e o deputado federal gaúcho Beto Albuquerque a vice-presidente. Por um capricho do destino, o acidente que vitimou Campos repôs a premissa lógica de que Marina - já agraciada com uma montanha de vinte milhões de votos na última eleição presidencial -, prima facie, seria eleitoralmente mais viável. Claro, sem ter conseguido "armar" a sua Rede Solidariedade, o partido que fundou e que não conseguiu registro no TSE a tempo de participar das eleições 2014, não lhe restou alternativa senão aderir ao arrojado projeto de Eduardo Campos que, na condição de condottiere do PSB, para si próprio reservou a cabeça da chapa presidencial, embora sua nova correligionária aparecesse com intenção de votos mais mais robusta, nas pesquisas até então divulgadas. E Marina Silva passou a figurar apenas como uma espécie de "dama de companhia", candidata à vice-presidência embora inicialmente com maior percentual de intenção.

A entrada de Marina Silva muda o jogo, apesar de dificilmente impedir que Dilma Rousseff conquiste o seu segundo mandato presidencial. Aliás, nesse ninho de cancão que é a eleição presidencial, um dos propósitos confessados de Eduardo Campos já é uma realidade: a lógica da política brasileira atual foge à polarização enfadonha entre petistas e tucanos. Nesse contexto, o mais prejudicado será o candidato Aécio Neves, que nos próximos dias será ultrapassado por Marina, que também tentará encostar em Dilma Rousseff. Para esta, real perigo seria uma aliança política de Marina e Aécio que, aliás, será a grande beneficiária se não ocorrer essa (improvável e quase impossível) união de forças.

Entretanto, a despeito do considerável apelo popular da candidatura Marina Silva no meio urbano, verdade é que ela se apequena muito no meio rural, porquanto a ex-ministra do governo Lula e antiga militante petista é considerada ferrenha inimiga do agronegócio, em especial nas questões ambientais. Passada que seja a comoção que causa no público a morte de Eduardo Campos, será bem mais nítida a posição de cada um dos principais candidatos à presidência da República à eleição de outubro de 2014 e quanto mais distante ficar das eleições o impacto eleitoral dessa tragédia se diluirá.

Desde logo, ressalte-se, favorece a candidatura de Dilma a circunstância de que não existe maior diferença político-ideológica entre os principais projetos em disputa: os três governos petistas (dois de Lula e um da Dilma) foram uma continuidade da política econômica de FHC e Marina Silva nasceu politicamente no PT, ademais da circunstância de que o PSB sempre foi um aliado estratégico petista (a enorme alavancagem do processo de crescimento do Estado de Pernambuco que tornou o então governador Eduardo Campos um mito, foi obra de Lula continuada por Dilma). Em suma, posto que em graus variados, as três candidaturas principais (Aécio, Dilma e Marina) se situam na faixa de centro-esquerda do espectro ideológico. Claro, quem ganhar a eleição armará um grande esquema político-parlamentar para garantir a governabilidade, que finda sendo um gigantesco balaio de gatos.

O palanque eletrônico terá cada vez mais importância nas eleições brasileiras e a atuação dos candidatos, a despeito das plataformas assemelhadas, poderá ser o diferencial a ser captado pelo eleitor e transformado em voto. Claro, algum candidato e seus epígonos encastelados em veículos de comunicação importantes continuarão a disseminar pânicos, sobretudo, ao alardear uma severa crise econômica que não existe e o fantasma de um desastre econômico de proporções bíblicas, caso Dilma Rousseff confirme nas urnas as leituras favoráveis à sua reeleição feitas através das pesquisas de opinião. Bobagem, embora Dilma tenha errado quando recusou-se a fazer ajustes imprescindíveis na economia nos dois primeiros anos de seu governo, insistindo em manter o crescimento econômico apenas com a expansão do crédito, que findou por gerar inflação e alguns amargos corretivos, a exemplo da escalada dos juros pelo Banco Central.

Segundo assertiva  do brilhante e insuspeito economista Luís Carlos Mendonça Barros, na conferência "Brasil: o fim de um modelo ou ajuste cíclico", proferida em evento ocorrido em São Paulo, dia 21 de gasto de 2014, "não estamos no meio de uma crise, mas, de algo como uma "parada técnica" depois de dezessete anos de crescimento, apenas a crise conjuntural de um modelo de sucesso que requer ajuste cíclico".  Vivemos um período de ajuste cíclico." Nada de pânico. Claro, a natureza e a intensidade desse ajuste dependerá de quem será eleito presidente.  Aquele que for ungido pelos urnas de outubro deste ano de 2014, como presidente da República, obrigatoriamente deverá fazer esse ajuste cíclico, porquanto os indicadores econômicos mostram que, a despeito do ciclo econômico virtuoso de 17 anos, a economia atingiu limites intransponíveis a inspirar cuidados  e preocupações caso não se façam os necessários ajustes. Vale esperar. 

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