domingo, 10 de março de 2013

Artigo de Paulo Afonso Linhares

CHIMBINHO
Paulo Afonso Linhares 

Uma luz se apagou, de repente, no pequeno mundo de nossas existências. Tenebrae factae sunt. Sim, fez-se treva nos corações dos familiares e amigos de Antônio Gonzaga Chimbinho, a sua prematura morte, como se fosse uma inesperada e bizarra antecipação da noite. Sim, aquilo que era mero prenúncio nos últimos cinco anos, em que Chimbinho travou renhida luta contra um mal terrível, repentinamente se fez realidade arrebatadora e implacável; nada mais havia a fazer senão soar os soturnos clarins para anunciar o fim da liça. Tudo consumado no clarão de pequeno e último instante. Difícil era crer que esse homem de sorriso amigo e gestos largos, Gonzaga Chimbinho, se fosse assim tão cedo. E tudo como se fosse para dar sentido àquela constatação de que Deus, criador da vida, sempre chama para junto de si os melhores. 

Agora tudo é silêncio e calma, para o amigo Chimbinho; tudo já passou: a dor, o sofrimento, a angústia, o desalento da despedida na hora derradeira. Indubitável que lutou o que pôde, pela vida, enquanto vida havia; em verdade, bem que Chimbinho poderia dizer, a exemplo das palavras do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). Para nós todos que aprendemos a admirar Gonzaga Chimbinho e que continuamos nessa nau de tormentas e desafios, temos o alento do seu exemplo de vida e de luta. Nós o choramos, como se todos fôssemos um pouco seus irmãos, para usar as palavras do deputado Padre Godinho, ditas alhures. Contudo, ele está em paz, o pequeno grande homem que iluminou os caminhos por onde palmilhou e cuja partida será chorada por longo tempo. Embora tenha partido cedo, redimiu o seu tempo, mormente porque viveu em plenitude essa passagem terrena. Entra definitivamente para a História esse menino humilde do Itajá e dileto filho adotivo da generosa Mossoró de Santa Luzia. 

A vida inteira viveu junto aos livros e fez do magistério a sua razão de viver, vindo a galgar o mais alto posto da instituição de ensino superior que ajudou a erigir – a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – na condição de seu reitor, cuja gestão eficiente, profícua e participativa, foi marcada pela manumissão legal dessa casa de saberes, que passou a se denominar “universidade”, de direito, já que de fato, insistia ela, de há muito em ser. Nos anos e décadas que virão, não será esquecida essa presença luminosa do reitor Gonzaga Chimbinho, que deu à academia uma bela lição de tolerância e de culto aos valores da cidadania, da liberdade e de amor à humanidade. Bem sabia ele da fragilidade dos homens, da vacuidade do poder e da inanidade da glória. E quão efêmeras seriam, para ele, as coisas do mundo.  Não, não será esquecido, Gonzaga Chimbinho. 

Multifacetada é a vida dos homens: no recinto da vida privada ou na inevitável exposição da vida pública. Em ambos os domínios uma mesma atitude altiva, obstinada e firme de Gonzaga Chimbinho, que soube honrar a herança moral que recebeu, aprimorou e transmitiu, qual imorredouro legado, aos seus filhos Taísa, Tasla e Tiago. E para gáudio de sua amatíssima e dedicada esposa, Jandira, companheira inseparável até o instante último.  Jamais o esquecerão. E diante de perda tão grande, um belo conforto pode ser encontrado nas palavras – parafraseadas - de Salomão, no Capitulo 3,1-9, do Livro da Sabedoria: “Aos olhos dos insensatos, parece ter morrido; ele, porém, está em paz”.  Está em paz e viverá na memória de todos que, a exemplo deste escriba de aldeia, tiveram o privilégio de conhecê-lo de perto. Ave, amigo Chimba.

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