domingo, 23 de setembro de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares


MOSSORÓ: OS MATIZES DO VERDE
Paulo Afonso Linhares

          Estudante de graduação em Direito, na UnB, li um pequeno livro escrito pelo general Ferdinando de Carvalho – Os Sete Matizes do Vermelho (editado em 1977, pela BIBLIEX – Biblioteca do Exército) que tinha o mesmo ritmo da Cavalgada das Valquírias (em alemãoWalkürenritt, que é o termo popular da Europa para o início do ato III da ópera Die Walküre (A Valquíria) de Richard Wagner) rumo ao apocalipse ou ao próprio inferno. Em resumo, o livro tem 166 páginas, composto de doze crônicas que “narram os aspectos cotidianos dos comunistas, suas características, suas formas de ações, seus pensamentos. A narração, ao mesmo tempo, se dá na primeira e terceira pessoa” (Hessmann, 2010 - http://bit.ly/R6hbvz). As narrativas desse livro são, segundo o autor, um misto entre ficção e realidade, compondo uma terrível catilinária contra o perigo do comunismo, visto como uma vasta maré vermelha que contaminava a tudo e todos. Um horror. Nem sei por que me dei ao trabalho de ler obra tão gosmenta; estava, é verdade, na “fase abutre”, em que lia tudo que me passasse à frente, de bula de remédio a compêndios de filosofia, política, sociologia, história, economia política ou de literatura, em prosa e verso. Depois, não me atrevi em ler Os Sete Matizes do Rosa (de 1978) nem tampouco o seu último livro publicada pela BIBLIEX: Lembrai-vos de 35.

            A lembrança desse livro é mais para enfatizar esta ligeira reflexão sobre a influência das cores na atual campanha política, mormente em Mossoró. Claro, de há muito que as cores servem para expressar posições políticas ou religiosas. Nas guerras antigas, seja no ocidente ou no mundo oriental, as flâmulas coloridas pautava a organização dos exércitos nos campos de batalha, assim como as cores das vestimentas dos soldados eram distintivos nas formações militares. Valem as menções do sábio chinês SunTzu no seu “A arte da guerra”. Cuidemos de outra guerra: a partir dos anos sessenta, no Rio Grande do Norte, com a conquista do governo do Estado por Aluizio Alves, que encabeçava um movimento político chamado “Cruzada da Esperança”, tendo como característica o uso intenso da cor verde, que é a de um pequeno gafanhoto (Neoconocephalus triops) conhecido, nesta parte do Brasil, como “esperança”. As facções política comandadas pelo arquiadversário de Aluizio, o senador Dinarte Mariz, paradoxalmente envergavam a cor vermelha, o “encarnado”. O paradoxo desta história era a fama que Mariz tinha de anticomunista, porém, usava a mesma cor consagrada como característica dos comunistas do mundo todo, inclusive, os potiguares.
            No auge dessa guerra cromática, os aluizistas adotaram o papagaio (de penugem verde) e os dinartistas a arara (de penugem predominante vermelha), ambas aves psitaciformes da família dos psitacídeos, para autodenominação. Sob essas cores a política potiguar viveu intensamente mais de três décadas quando, após a terrível “mistura” que foi a tal “Paz Pública” que uniu o então governador Tarcísio Maia e Aluizio Alves, passou a drapejar a flâmula cor de laranja da campanha de José Agripino, eleito governador do Estado em 1982, derrotando esse mito que foi Aluizio. Depois que “araras” passaram a ser chamados “bicudos” e “papagaios” de “bacuraus”, ambas facções perderam a referência cromática, embora os seguidores do aluizismo, comandados pelos primos Henrique e Garibaldi Alves Filho, tenham levado adiante a tradição do verde.
            Em Mossoró, na atual campanha, a assessoria da candidata Larissa Rosado resolveu abandonar a cor vermelha, que tanto marca o seu partido, o PSB, quanto à agremiação do candidato a vice-prefeito Josivan, o PT, para usar um verde esmaecido, um “verde-cana”, como se diz por aqui. Até hoje ninguém entendeu a razão da troca, sobretudo, porque o vermelho com amarelo (do PSB) ou até com o branco (do PT), garante excelente visual. Do outro lado, embora a candidata Cláudia Regina use a cor laranja de seu padrinho, senador José Agripino, a sua campanha se vestiu, também, de um intenso verde, o chamado agora “verde bacurau”, um verde que dói na vista, representativo do PMDB do candidato a vice-prefeito Wellington. Engraçado é a propriedade do verde tem sido reivindicada tanto pelos que seguem Larissa quanto pelos que apoiam Cláudia Regina. Até acusação de que um dos verdes “é do Paraguai” já houve... Enquanto isto, os candidatos a prefeito Cinquentinha, Ednaldo Calixto e o Prof. Josué, sem cores qualquer, caminham, também, no rumo do próximo sete de outubro. Para ver a cor do voto.

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